Como era ver TV na década de 1960?

Ah, aqueles dias… Crescer na década de 1960 no interior de São Paulo era como viver em um mundo que já não existe mais. Hoje, com a televisão a cabo, streaming, 4K, parece que aquela época foi há séculos atrás. Eu me lembro como se fosse ontem, eu, uma menina com laços de fita nos cabelos e um olhar de curiosidade por tudo, sentada no chão frio da sala de estar, assistindo à TV preto e branco que mais parecia um móvel de tão grande e pesada.

No nosso lar de classe média, ter uma televisão em casa era um luxo e tanto. Não era todo mundo que podia se dar ao luxo de ter uma. A nossa era uma Philco, daquelas com uma tela arredondada e botões grandes que faziam um “click” satisfatório quando você os girava. Tínhamos que levantar do sofá para mudar de canal ou ajustar o volume. E isso era uma verdadeira aventura, especialmente quando as chuvas de verão interferiam na antena e a gente tinha que ajeitar o “rabo de gato” para captar melhor o sinal.

A programação começava por volta das seis da tarde. Antes disso, a TV ficava lá, quieta, mostrando apenas chuviscos e emitindo um som estático que às vezes quebrava o silêncio da casa. Quando ligava, começava com o hino nacional, uma imagem da bandeira do Brasil ondulando ao vento. Era o início de mais uma noite de entretenimento e informação.

O ritual era sagrado: após o jantar, a família se reunia para assistir às novidades do dia. As novelas eram o ponto alto para minha mãe e tias, enquanto meu pai e meus tios ficavam no aguardo do Repórter Esso, que era o telejornal mais famoso da época, e trazia as notícias do mundo de forma sucinta e direta. Eles falavam sobre isso como se comentassem uma partida de futebol, com aquela empolgação típica de quem via no jornalismo uma janela para o mundo.

As crianças da época, bem, a gente se encantava mesmo era com os poucos programas infantis, como o “Sítio do Picapau Amarelo”, que trazia as aventuras de Emília, Narizinho e Pedrinho, personagens que saltavam das páginas dos livros de Monteiro Lobato para a nossa sala de estar. Era a nossa versão da magia que hoje as crianças encontram em tantos desenhos animados e séries.

Os programas de auditório também faziam parte da programação. Eu me lembro de ficar fascinada pelo “Cassino do Chacrinha”, onde tudo parecia possível e o inesperado era a única certeza. Era um espetáculo de cores, mesmo em preto e branco, que enchia nossos olhos de alegria e os ouvidos com as mais variadas músicas.

Não tínhamos controle remoto. Nada de pausar ou voltar a programação. Se você perdesse um capítulo da novela ou uma notícia importante, bem, só no outro dia na escola ou no trabalho, onde as conversas giravam em torno do que tinha sido exibido no dia anterior.

Quando a transmissão acabava, lá pela meia-noite, a TV não nos deixava na mão. Em vez disso, ela nos apresentava o famoso “teste de padrão”, um gráfico estranho acompanhado de um apito constante, que sinalizava que a programação tinha acabado e só voltaria no dia seguinte.

Era uma época onde a televisão não era só entretenimento, era um evento. Ela reunia a família, os amigos, os vizinhos. Nos finais de semana, quando passava algum filme mais esperado ou um jogo importante de futebol, a nossa casa ficava cheia. Pessoas que muitas vezes nem se viam durante o dia se juntavam para torcer, comentar e partilhar aqueles momentos.

E as propagandas? Ah, essas merecem um capítulo à parte. Eram menos sofisticadas, é claro, mas tinham uma criatividade e um charme que até hoje me pegam cantarolando jingles que nunca mais esqueci. “Não é assim uma Brastemp”, “Tomou Doril, a dor sumiu”, e tantos outros que até hoje estão na ponta da língua.

A TV era nossa companheira, nossa professora e nossa contadora de histórias. Em uma época sem Google, Wikipedia ou YouTube, o que sabíamos do mundo muitas vezes vinha daquela caixa mágica na sala de estar. Ela nos mostrou a chegada do homem à Lua, os grandes eventos esportivos, os desfiles de carnaval, os grandes acontecimentos políticos.

Crescer na década de 1960, no interior de São Paulo, com uma televisão em casa era ter um ingresso para um espetáculo diário que não distinguia classe social, idade ou profissão. Todos éramos espectadores ávidos, aguardando a próxima cena desse teatro eletrônico que, sem saber, escrevia capítulos inesquecíveis nas memórias de uma menina que um dia olhou para aquela tela e viu o mundo se abrir diante dos seus olhos.

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